
Lula mal havia sido declarado vitorioso nas últimas eleições e a discussão logo se impôs: o teto de gastos do orçamento, já no limite, era insuficiente para as despesas do ano seguinte – e era necessário emendar a Constituição para conseguir algumas (ou melhor, muitas) dezenas de bilhões de reais.
A realidade se impôs – e, mais do que qualquer discussão acadêmica, valeu mesmo reconher o óbvio ululante: sem o dinheiro, não haveria Governo. Mais da metade do valor do pacote destinou-se ao pagamento do Bolsa Família (Saúde e Educação vieram em seguida) .
Portanto, quando se discutiu orçamento federal para 2023, o que se discutiu foi a fome. Exatamente: foi a fome.
Porque para mais de 75% das pessoas que recebem o Bolsa Família, o dinheiro serve para comprar comida. Simples assim.[2]
É bom dar o nome correto a cada coisa: o problema do Brasil, já há algum tempo, é pessoas passando fome – e quem mais está nessa tenebrosa situação são as famílias com crianças menores de 14 anos idade[3], em especial as lideradas por mães solo[4].
As taxas de juros passam, as discussões acadêmicas passam, discursos de YouTube passam, políticas e políticos passam. A fome, no entanto, é algo que não passa.
O que gostaríamos de dizer que a grande luta é contra a fome – mas talvez seja mais realista dizer que grande luta ainda é mesmo contra a indiferença disfarçada de discurso.
Thais Cassapian e Yeda Braz Forni
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[1] Valor Econômico, edição de 13.12.22, matéria intitulada “Área Social terá 75% dos R$ 145 bi além do teto”.
[2] Folha de S. Paulo, edição de 25.09.22, matéria intitulada “Comida é o principal destino do Auxílio Brasil para 76% dos beneficiários”
[3] Valor Econômico, edição de 05.12.22, matéria intitulada “Pobreza atinge com mais força famílias com criança”.
[4] Folha de S. Paulo, edição de 12.12.22, matéria intitulada “Fila do Auxílio Brasil ressurge após a eleição e já tem128 mil famílias”.
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